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sexta-feira, 25 de julho de 2025

 

Estudo d'O Livro dos Espíritos (Jorge e Lourdes)

 


 

142. Que dizeis dessa outra teoria segundo a qual a alma, numa criança, se vai completando a cada período da vida?

— O Espírito é uno e está todo na criança, como no adulto. Os órgãos, ou instrumentos das manifestações da alma, é que se desenvolvem e completam. Ainda aí tomam o efeito pela causa.

Comentário

Ao reencarnar, o Espírito está por completo no corpo, mas sua lucidez completa só ocorre após o desenvolvimento dos órgãos do seu corpo, em especial o cérebro. 

143. Por que todos os Espíritos não definem do mesmo modo a alma?

— Os Espíritos não se acham todos esclarecidos igualmente sobre estes assuntos. Há espíritos de inteligência ainda limitada, que não compreendem as coisas abstratas. São como as crianças entre vós. Também há Espíritos pseudossábios, que fazem alarde de palavras, para se imporem, ainda como sucede entre vós. Depois, os próprios Espíritos esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, cujo valor, entretanto, é, substancialmente, o mesmo, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem se mostra impotente para traduzir com clareza. Recorrem então a figuras, a comparações, que tomais como realidade.

 Comentário

Sendo os espíritos as almas libertas do corpo físico, ao desencarnarem conservam seus conhecimentos que podem ser limitados. Há ainda aqueles espíritos que conhecem um pouco de alguma coisa, mas esse conhecimento se confunde com desinformações, que passam a quem os ouve como se fossem verdades. São os pseudossábios, como ocorre entre nós. É preciso muito estudo, reflexão e cuidado, ao recebermos informações dos espíritos superiores cujo conhecimento esteja ainda acima de nossa compreensão. Para tentarem se fazerem entendidos, esses espíritos utilizam-se de comparações, metáforas que, em nossa ignorância, podemos tomar noutro sentido que não seja o real. Jesus, por exemplo, utilizava-se de parábolas e do sentido alegórico de suas palavras para ser compreendido por poucos dos seus discípulos que já estavam numa condição mais elevada de entendimento.

 144. Que se deve entender por alma do mundo?

— O princípio universal da vida e da inteligência, do qual nascem as individualidades. Os que se servem dessa expressão, porém, não se compreendem, as mais das vezes, uns aos outros. O termo alma é tão elástico que cada um o interpreta ao sabor de suas fantasias.

Também à Terra hão atribuído uma alma. Por alma da Terra se deve entender o conjunto dos Espíritos abnegados, que dirigem para o bem as vossas ações, quando os escutais, e que, de certo modo, são os lugares-tenentes de Deus com relação ao vosso planeta.”ncarnação dos Espíritos.

Comentário

Todos os seres humanos, proviemos do princípio inteligente universal, num tempo desconhecido por nós, quando ocorre nossa individualização. É nesse sentido que se deve entender, figuradamente, se assim podemos dizer, a alma do mundo, ou seja, o princípio inteligente universal. Mas a palavra alma pode ter vários sentidos, como ocorre com todas as palavras. Podemos entender também “alma da Terra” como manifestação dos espíritos abnegados, servidores de Deus, dos quais o principal, aqui na Terra, é Jesus Cristo, nosso Senhor e Mestre acima de todos nós em perfeição.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos



135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?

— Há o laço que liga a alma ao corpo.

a) De que natureza é esse laço?

“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois possam comunicar-se um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”

O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:

1º – o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;

2º – a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;

3º – o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tal, num fruto, o germe, o perisperma e a casca.

Comentário

Nosso corpo orgânico é uma cópia do corpo espiritual, que Kardec denomina de perispírito. É por intermédio do perispírito que o Espírito, alma encarnada atau sobre o corpo físico.

 136. A alma independe do princípio vital?

“O corpo não é mais do que envoltório, repetimo-lo constantemente.”

a) Pode o corpo existir sem a alma?

“Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto, depois de essa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.”

b) Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?

“Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.”

 Comentário

Como já havia sido informado pelos Espíritos que respondem a Allan Kardec, temos corpo orgânico, corpo espiritual, que é o perispírito e alma, que é o Espírito encarnado. Se a alma não mais se liga ao corpo físico, este morre, restando perispírito e Espírito, ou alma livre do corpo físico. Por isso dizem os Espíritos que a vida orgânica pode continuar existindo, mas se ela cessa, também cessa a vida do Espírito no corpo físico.

137. Um Espírito pode encarnar a um tempo em dois corpos diferentes?

“Não, o Espírito é indivisível e não pode animar simultaneamente dois seres distintos.” (Ver, em O livro dos médiuns, cap. VII, Da bicorporeidade e da transfiguração.)

 Comentário

Para cada corpo, uma alma. Mesmo no caso de xifópagos, que é o caso de duas almas num corpo, este se bifurca e sempre haverá duas cabeças, pois o cérebro é a fonte de manifestação da alma. No caso da bicorporeidade ou transfiguração, o corpo físico é o mesmo, o que é visto é sua reprodução perispiritual. Novas informações sobre esse fenômeno podem ser lidas no capítulo 7 da obra citada acima.

138. Que se deve pensar da opinião dos que consideram a alma o princípio da vida material?

— É uma questão de palavras, com que nada temos. Começai por vos entenderdes mutuamente.

Comentário

A resposta do Espírito deve-se às diversas conceituações de alma, entre nós. Entretanto, a informação sobre alma já foi dada pelos Espíritos a Kardec. Alma, no sentido espiritual visto aqui, ficamos sabendo, é um espírito encarnado.


Estudo d'O Livro dos Espíritos


139. Alguns Espíritos e, antes deles, alguns filósofos definiram a alma como “uma centelha anímica emanada do grande Todo”. Por que essa contradição?

— Não há contradição. Tudo depende das acepções das palavras. Por que não tendes uma palavra para cada coisa? 

Comentários

A palavra alma, assim como espírito e qualquer outra palavra pode ter diversos significados. No caso de alma, como observam os espíritos, podemos dar-lhe outros significados, mas o que importa aqui é o sentido de alma como Espírito encarnado, nossa individualidade.

O vocábulo alma se emprega para exprimir coisas muito diferentes. Uns chamam alma ao princípio da vida e, nesta acepção, se pode com acerto dizer, figuradamente, que a alma é uma centelha anímica emanada do grande Todo. Estas últimas palavras indicam a fonte universal do princípio vital de que cada ser absorve uma porção e que, após a morte, volta à massa donde saiu. Essa ideia de nenhum modo exclui a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade.

A esse ser, igualmente, se dá o nome de alma e nesta acepção é que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado. Dando da alma definições diversas, os Espíritos falaram de acordo com o modo por que aplicavam a palavra e com as ideias terrenas de que ainda estavam mais ou menos imbuídos. Isto resulta da deficiência da linguagem humana, que não dispõe de uma palavra para cada ideia, donde uma imensidade de equívocos e discussões. Eis por que os Espíritos superiores nos dizem que primeiro nos entendamos acerca das palavras. 

140. Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos e presidindo assim a cada uma das funções do corpo?

— Ainda isto depende do sentido que se empreste à palavra alma. Se se entende por alma o fluido vital, essa teoria tem razão de ser; se se entende por alma o Espírito encarnado, é errônea. Já dissemos que o Espírito é indivisível. Ele imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário, sem que para isso se divida.

a) Entretanto, alguns Espíritos deram essa definição.

— Os Espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa.

Comentários

Quando a palavra alma é confundida com fluido vital pode-se achar que os que assim a consideram imaginam que ela participe de todos os órgãos. Mas no sentido de alma como Espírito encarnado, ela é indivisível, como o próprio Espírito desencarnado. Então, é o fluido vital, manipulado pela alma, Espírito encarnado, que se estende a todos os órgãos do corpo físico.

 A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital, que por eles se reparte, existindo em maior abundância nos que são centros ou focos de movimento. Esta explicação, porém, não procede, desde que se considere a alma o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da morte.

 141. Há alguma coisa de verdadeiro na opinião dos que pretendem que a alma seja exterior ao corpo e o circunvolve?

— A alma não se acha encerrada no corpo, qual pássaro numa gaiola. Irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro, ou como o som em torno de um centro de sonoridade. Neste sentido se pode dizer que a alma é exterior, sem que por isso constitua o envoltório do corpo. A alma tem dois invólucros: um, sutil e leve, é o primeiro, ao qual chamas perispírito; outro, grosseiro, material e pesado, o corpo. A alma é o centro de todos os envoltórios, como o germe em um núcleo, já o temos dito.

 Comentário

Como os espíritos nos esclarecem, a alma não fica totalmente aprisionada no corpo, irraria externamente, como ocorre com uma lâmpada cuja fonte parte do interior para o exterior.

 Nota de Allan Kardec: Ver, na Introdução, a explicação sobre o termo alma, § II. Da encarnação dos Espíritos.


segunda-feira, 14 de julho de 2025

Estudo d'O Livro dos Espíritos (Jorge e Lourdes)



132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

— Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para  outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da Criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.

Comentários

Não há privilégio na Lei de Deus de justiça e de amor. Espíritos em expiação são os que utilizam mal  seu livre-arbítrio. Quanto mais nos submetemos com amor às leis divinas, mais depressa nos livramos dos sofrimentos. Ao alcançarmos o estado de pureza, tornamos cocriadores das obras divinas, o que ocorre nos mundos sublimados.

A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. Deste modo, por  uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem?

— Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.

a) Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

— Chegam mais depressa ao fim. Demais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.

Comentários

Como foi dito na questão anterior, não há privilégios nas leis de Deus. Somos criados “simples e  ignorantes”, mas a evolução de nossos espíritos cabe aos nossos esforços. Quanto mais cedo nos livrarmos das paixões humanas, como a inveja, o ciúme, a avareza e ambição de riquezas e poder, mais rápida será nossa ascensão aos planos mais altos da evolução espiritual.

134. Que é a alma?

— Um Espírito encarnado.

a) Que era a alma antes de se unir ao corpo?

— Espírito.

b) As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?

— Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres  inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.

 Comentário

Somos espíritos no corpo carnal, quando somos informados de que aqui estamos na condição de almas num corpo que, depois de morto, voltamos a ser espíritos e, como veremos nas questões anteriores, continuamos nos manifestando pelo corpo espiritual, que Kardec denomina como perispírito.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Estudo d'O Livro dos Espíritos



130. Sendo errônea a opinião dos que admitem a existência de seres criados perfeitos e superiores a todas as outras criaturas, como se explica que essa crença esteja na tradição de quase todos os povos?

— Fica sabendo que o mundo onde te achas não existe de toda a eternidade e que, muito tempo antes que ele existisse, já havia Espíritos que tinham atingido o grau supremo. Acreditaram os homens que eles eram assim desde todos os tempos.

Comentário

Espíritos mais adiantados do que os que foram criados depois, por terem aproveitado a oportunidade de evoluir, tornaram-se perfeitos em relação àqueles e, em consequência do desconhecimento disso, os seres humanos da época os consideravam anjos ou mesmo deuses.

131. Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra?

— Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Mas, porventura, Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados? Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome.

Comentários

Como já vimos antes, Deus criou todos os espíritos partindo igualmente da simplicidade e da  ignorância, cujo livre-arbítrio se desenvolve com o tempo. Os chamados demônios são aqueles espíritos que, fazendo uso do seu livre-arbítrio, optaram pelo mal. 

A palavra demônio não implica a ideia de Espírito mau, senão na sua acepção moderna, porquanto o termo grego daïmon, donde ela derivou, significa gênio, inteligência e se aplicava aos seres incorpóreos, bons ou maus, indistintamente.

Por demônios, segundo a acepção vulgar da palavra, se entendem seres essencialmente malfazejos. Como todas as coisas, eles teriam sido criados por Deus. Ora, Deus, que é soberanamente justo e bom, não pode ter criado seres prepostos, por sua natureza, ao mal e condenados por toda a eternidade. Se  não fossem obra de Deus, existiriam, como Ele, desde toda a eternidade, ou então haveria muitas potências soberanas.

A primeira condição de toda doutrina é ser lógica. Ora, a dos demônios, no sentido absoluto, falta esta base essencial. Concebe-se que povos atrasados, os quais, por desconhecerem os atributos de Deus, admitem em suas crenças divindades maléficas, também admitam demônios; mas é ilógico e contraditório que quem faz da bondade um dos atributos essenciais de Deus suponha haver Ele criado seres destinados ao mal e a praticá-lo perpetuamente, porque isso equivale a lhe negar a bondade. Os partidarios dos demônios se apoiam nas palavras do Cristo. Não seremos nós quem conteste a autoridade de seus ensinos, que desejaramos ver mais no coração do que na boca dos homens; porém estarão aqueles partidários certos do sentido que Ele dava a esse vocábulo? Não é sabido que a forma alegorica constitui um dos caracteres distintivos da sua linguagem? Dever-se-á tomar ao pé da letra tudo o que o Evangelho contém? Não precisamos de outra prova além da que nos fornece esta passagem:

Logo após esses dias de aflição, o Sol escurecerá e a Lua não mais dará sua luz, as estrelas cairão do céu e as potências do ceu se abalarão. Em verdade vos digo que esta geração não passará, sem que todas estas coisas se tenham cumprido (Mateus, 24:29 e 34).

Não temos visto a Ciência contraditar a forma do texto bíblico, no tocante a Criação e ao movimento da Terra? Não se dará o mesmo com algumas figuras de que se serviu o Cristo, que tinha de falar de acordo com os tempos e os lugares? Não e possivel que Ele haja dito conscientemente uma falsidade. Assim, pois, se nas suas palavras há coisas que parecem chocar a razão, e que não as compreendemos bem, ou as interpretamos mal.

Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos. Como acreditaram na existência de seres perfeitos desde toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Por demônios se devem entender os Espíritos impuros, que muitas vezes não valem mais do que as entidades designadas por esse nome, mas com a

diferença de ser transitório o estado deles. São Espíritos imperfeitos, que se rebelam contra as provas que lhes tocam e que, por isso, as sofrem mais longamente, porém, que, a seu turno, chegarão a sair daquele estado, quando o quiserem. Poder-se-ia, pois, aceitar o termo demônio com esta restrição. Como o entendem atualmente, dando-se-lhe um sentido exclusivo, ele induziria em erro, com o fazer crer na existência de seres especiais criados para o mal.

Satanás é evidentemente a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau a lutar, como de potência a potência, com a Divindade e cuja única preocupação consistisse em lhe contrariar os designios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imaginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. E assim que os antigos, querendo personificar o tempo, o pintaram com a figura de um velho munido de uma foice e uma ampulheta. Representá-lo pela figura de um mancebo fora contrassenso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna, da verdade etc. Os modernos representaram os anjos, os puros Espíritos, por uma figura radiosa, de asas brancas, emblema da pureza; e Satanás com chifres, garras e os atributos da animalidade, emblema das paixões vis. O vulgo, que toma as coisas ao pé da letra, viu nesses emblemas individualidades reais, como vira outrora Saturno na alegoria do tempo.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos


123 — Por que Deus permitiu que os Espíritos pudessem seguir o caminho do mal?

— Como ousais pedir a Deus contas de seus atos? Pensais poder penetrar os seus desígnios? No entanto, podeis dizer isto:  a sabedoria de Deus está na liberdade de escolher que Ele deixa a cada um, pois  cada um tem o mérito de suas obras.

Comentário

É no livre-arbítrio que nos concedeu que Deus demonstra sua suprema sabedoria. Se criasse todos com discernimento suficiente, desde o seu princípio como espírito, para só tomar o caminho do bem, onde estaria o mérito de todos os seus filhos. O livre-arbítrio, porém, desenvolve-se paulatinamente. No início de nossa evolução, somos como crianças a quem a tutela dos pais ou responsáveis nunca deixa de atuar, mostrando-lhes que suas atitudes têm consequências boas ou más. Com o tempo, adquirimos maturidade suficiente para fazermos nossas escolhas, mas sabendo de antemão que consequências elas terão cedo ou tarde.

124 — Uma vez  que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos?

— Sim, certamente, e constituem a maioria.

Comentário

A maioria dos espíritos ainda é a dos que ora optam pelo bem, ora pelo mal. Com o discernimento sobre as consequências dessa ou daquela escolha é que o espírito pode evoluir mais ou menos rapidamente. Quanto mais apegado à matéria e seus aparentes benefícios, sempre ligados à temporalidade da vida física na Terra, mais tempo levará o espírito para evoluir espiritualmente.

125 — Os Espíritos que seguiram o caminho do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?

— Sim; mas as eternidades lhes serão mais longas.

Comentários

Todos chegaremos à perfeição, mas quem mais trabalha no bem do próximo, mais faz em benefício próprio. Por isso recomenda-nos o Espírito da Verdade, no capítulo 6 d’O evangelho segundo o espiritismo para nos amar, mas também nos instruir.

Por estas palavras — as eternidades — deve-se entender a ideia que os Espíritos inferiores fazem da perpetuidade de seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver, ideia que se renova em todas as provas nas quais sucumbem.

Observação: Até aqui, a tradução é de Evandro Noleto Bezerra. A partir daqui, a tradução é de Guillon Ribeiro. Ambas as obras são excelentes, mas por questão de acesso mais fácil ao arquivo do saudoso presidente da FEB, optamos por utilizar a obra do Evandro nos vídeos e a do Guillon nestes textos comentados. Conforme dissemos, no início deste trabalho, os comentários sem destaque são nossos; os destacados em itálico são de Allan Kardec.

126. Chegados ao grau supremo da perfeição, os Espíritos que andaram pelo caminho do mal têm, aos olhos de Deus, menos mérito do que os outros?

— Deus olha de igual maneira para os que se transviaram e para os outros e a todos ama com o mesmo coração. Aqueles são chamados maus, porque sucumbiram. Antes, não eram mais que simples Espíritos.

Comentário

Isso faz-nos lembrar uma feliz imagem sobre as opções que temos de chegar a um lugar distante, a uma estância feliz. Uns optam por ir a pé, outros de bicicleta, outros de carro, trem, navio ou de avião. Os que vão pelo meio de transporte mais rápido, mais cedo chegarão a seu destino. Se procuramos sempre a via do bem, mais rapidamente chegaremos à perfeição, mas se tropeçamos na caminhada a pé, ou ainda que usando meio de transporte mais lento que o avião, mais tarde chegaremos ao destino final. A imagem pode não traduzir tudo o que se refere à escolha dos espíritos para chegar à perfeição, mas permite-nos ter uma ideia, ainda que apagada, do que podemos escolher para chegar ao termo feliz de nossa viagem. Todos chegarão lá, mas os que fizerem as melhores escolhas chegarão mais cedo e mais rapidamente desfrutarão dos benefícios da estância feliz.

 

127. Os Espíritos são criados iguais quanto às faculdades intelectuais?

— São criados iguais, porém, não sabendo donde vêm, preciso é que o livre-arbítrio siga seu curso. Eles progridem mais ou menos rapidamente em inteligência como em moralidade.

 Comentários

Partimos do mesmo princípio. Uns tendo sido criados antes, mas o que vai proporcionar a evolução é o bom uso do livre-arbítrio bem utilizado por cada espírito. A evolução tem que ocorrer tanto no sentido intelectual quanto no moral.

 

Os Espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são Espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam adquirir a experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, seja qual for a bondade de seus instintos naturais, necessitam de se desenvolver e esclarecer e que não passam, sem transição, da infância à madureza. Simplesmente, assim como há homens que são bons e outros que são maus desde a infância, também há Espíritos que são bons ou maus desde a origem, com a diferença capital de que a criança tem instintos já inteiramente formados, enquanto que o Espírito, ao formar-se, não é nem bom, nem mau; tem todas as tendências e toma uma ou outra direção, por efeito do seu livre-arbítrio.

 

128. Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?

— Não; são os Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.

 Comentários

Os chamados anjos são espíritos puros, que foram criados, como todos os demais, simples e ignorantes, mas que percorreram mais ou menos rapidamente, ao longo dos milênios as escalas evolutivas, até se tornarem perfeitos em relação a nós.

 A palavra anjo desperta geralmente a idéia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção.

 129. Os anjos hão percorrido todos os graus da escala?

— Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição.

 Comentário

É o que dissemos antes. Quanto mais opção pelo bem e esforço em aprender, mais rápida é a ascensão do espírito.

Essa resposta nos traz à memória o simbolismo da escada de Jacó, que em sonho viu uma escada que se conectava ao céu e nela os anjos subiam e desciam (Gênesis, 28:10- 17). É também essa escada o símbolo de comunicação entre o Céu e a Terra. Ela nos dá também a ideia da condição dos espíritos puros que são os representantes de Deus entre nós.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

 Estudo d'O Livro dos Espíritos com Jorge e Lourdes



122a — De onde vêm as influências que se exercem sobre ele?

— Dos espíritos imperfeitos que procuram apoderar-se dele, dominá-lo, e que se sentem felizes por fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis simbolizar com a figura de satanás.

 122b — Tal influência só se exerce sobre o Espírito em sua origem?

— Ela o segue na vida de Espírito, até que haja conseguido tanto império sobre si mesmo, que os espíritos maus desistam de obsidiá-lo.

Comentários

Consciente de si mesmo, o Espírito adquire total responsabilidade sobre suas escolhas. Não é o determinismo das situações que decide o que o Espírito faz delas e sim, sua vontade e liberdade de escolha. Se cede às influências externas, cabe ao Espírito responder pelas consequências boas ou más de sua escolha. Todos estamos sujeitos às influências do pecado, mas feliz de quem resiste até o fim a essas influências e opta pelo bem.

Como todos os espíritos são criados simples e ignorantes e seu livre-arbítrio se desenvolve aos poucos, aqueles que se deixam influenciar pelos maus, que os antecederam atrasam sua evolução. Essa influência torna-se cada vez menos intensa quanto mais se adianta em conhecimento e moralidade o Espírito, até que seu domínio sobre a vontade e desejo do bem neutralize e mesmo afaste os maus espíritos de obsidiá-lo.

 


terça-feira, 1 de julho de 2025

Estudo d'O Livro dos Espíritos com Jorge e Lourdes



120 — Todos os espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem?

— Não pela fieira do mal, mas pela da ignorância.

 Comentário

Criados simples e ignorantes, é natural que os espíritos, no início de suas primeiras existências, passe pela fieira da ignorância e, com o tempo, comece a distinguir o mal do bem, principalmente pelas consequências más ou boas de um e de outro.

 

121 — Por que é que alguns espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?

— Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, com igual aptidão para o bem e para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por sua vontade.

Comentário

A partir do momento que o Espírito adquire o livre-arbítrio ele já não tem justificativa para a tomada de decisão equivocada, no que se refere ao bem e ao mal. A aptidão é igual, mas sempre prevalece a vontade do espírito. E a responsabilidade também sobre os resultados de sua decisão.

 

122 — Como podem os espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, ter a liberdade de escolher entre o bem e o mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um caminho do que para outro?

— O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade se a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, mas fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

 Comentário

Consciente de si mesmo, o Espírito adquire total responsabilidade sobre suas escolhas. Não é o determinismo das situações que decide o que o Espírito faz delas e sim, sua vontade e liberdade de escolha. Se cede às influências externas, cabe ao Espírito responder pelas consequências boas ou más de sua escolha. Todos estamos sujeitos às influências do pecado, mas feliz de quem resiste até o fim a essas influências e opta pelo bem.


  Estudo d'O Livro dos Espíritos (Jorge e Lourdes)     142. Que dizeis dessa outra teoria segundo a qual a alma, numa criança, se ...